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quarta-feira, 26 de maio de 2010

De Quilombos a Canudos

_Plínio Sgarbi

As vítimas do comunismo, dos expurgos e das grandes fomes na URSS, na China e em Cuba, chegam a dezenas de milhões de vidas humanas, setenta, oitenta, cem.. E outras milhares de vidas humanas ceifadas nos Paredóns, nos fuzilamentos.

Só em Cuba, ilha de proporções muito menor de paises como Rússia e China, as vítimas do regime fidelista, os inimigos da revolução, estima em 7.000 fuzilamentos.

Che Guevara promulgou mais de 400 sentenças de morte apenas nos primeiros meses em que comandava a prisão de La Cabaña, e segundo o jornalista cubano Luis Ortega, que conheceu Che Guevara ainda em 1954, escreveu em seu livro "Yo Soy El Che!" que o número real de pessoas que Guevara mandou fuzilar é de 1.892. "Eu não preciso de provas para executar um homem", gritou Che para um funcionário do judiciário cubano em 1959. "Eu só preciso saber que é necessário executá-lo."

"Execuções?", gritou Che Guevara enquanto discursava na glorificada Assembléia Geral da ONU, em 9 de dezembro de 1964. "É claro que executamos!", declarou o ungido, gerando aplausos entusiasmados daquele venerável órgão. "E continuaremos executando enquanto for necessário. Essa é uma guerra de morte contra os inimigos da revolução.

"Em outra ocasião, Guevara foi procurado por uma mãe desesperada, que implorou pela soltura do filho, um menino de 15 anos preso por pichar muros com inscrições contra Fidel. Um soldado informou a Guevara que o jovem seria fuzilado dali a alguns dias. O comandante, então, ordenou que fosse executado imediatamente, para que a senhora não passasse pela angústia de uma espera mais longa.

Che Guevara é símbolo oficial na Venezuela e na Bolívia”, com direito a estátuas.

Atualmente há no Brasil milhares de adoradores desse Bandido, frio assassino Argentino e por incrível que hoje possa parecer, há ainda adoradores de Castro, Stálin e Mao. Sempre que se fala dos grupos armados, usa-se a expressão do tipo "lutavam por liberdade", "lutavam contra ditadura". A verdade e real intenção era outra e bem diferente de liberdade. Os guerrilheiros sonhavam fazer do Brasil um Cubão, sempre citavam o líder chinês Mao Tsé-Tung, adoravam o Líder russo Joseph Stálin e o cubano Fidel castro.

De dezoito estatutos e documentos escritos por organizações de luta armada no Brasil, nos anos 1960 e 1970, quatorze descrevem o objetivo de criar um sistema de partido único e erguer uma ditadura similar aos regimes comunistas que existiam na China e em Cuba. A Ação Popular, por exemplo, da qual participou José Serra, defendia com todas as letras: substituir a ditadura da burguesia pela ditadura do proletariado. Transformar o Brasil numa ditadura socialista.O objetivo do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) era instalar um governo popular e não a chamada redemocratização.

Já dizia Cícero dois mil anos atrás, aquele que não conhece a História será para sempre um menino.

E então, dos Militares para hoje os Militantes e alguns intelectuais esquerdistas que escrevem a história brasileira, aproveitando que no Brasil a memória é curta, quero lembrar de Antonio Vicente Mendes Maciel, apelidado Antonio Conselheiro, o líder de Canudos. Poucos brasileiros se sensibilizaram com o que realmente aconteceu no sertão baiano, século XIX. Ainda hoje o relato de Euclides da Cunha em Os Sertões dorme nas bibliotecas.

Canudos, a mais sangrenta luta da História do Brasil, quando os homens de Antônio Conselheiro usaram técnicas incríveis de combate para defender uma vida livre dos coronéis.

Segundo a história que nos é passada, Antonio Conselheiro tem a imagem de um louco, de um beato de mente transtornada que se tornou uma afronta ao progresso e à ordem em que o Brasil vinha passando, uma vez que a república vivia seus primeiros momentos. Mas os ideais e a ideia sobre a fundação da Comunidade Belo Monte por Antonio Conselheiro e o conflito de Canudos é muito em bem diferente do que retratam Zumbi, em que, nos anos 70, os historiadores marxistas projetaram no Quilombo de Palmares tudo o que imaginavam de sagrado para uma sociedade comunista: igualdade, relações de trabalho pacíficas e comida para todos.

Sabe-se hoje que o quilombo do século XVII estava mais para um reino africano daquela época que para uma sociedade aos moldes descritos por tais historiadores. Zumbi descendia de imbangalas, os senhores da guerra da África Centro-Ocidental. Guerreiros temidos: Quando alguns negros fugiam do Quilombo de Zumbi, eram perseguidos pelos guerreiros de Palmares e uma vez capturados, eram mortos, de sorte que entre eles reinava o temor. Zumbi tinha escravos e mandava capturar outros escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados no quilombo, pois o sonho dos escravos eram ter escravos. Zumbi também sequestrava mulheres e executava aqueles que quisessem fugir do quilombo. Conforme o escritor Leandro Narloch registra em seu livro, "Para ter escravos, os quilombolas faziam pequenos ataques a povoados próximos. Os escravos que, por sua própria indústria e valor, conseguiam chegar aos Palmares, eram considerados livres, mas os escravos raptados ou trazidos à força das vilas vizinhas continuavam escravos".

Verdades estas que parece ofender algumas pessoas hoje em dia, a ponto de preferirem omiti-las ou censurá-las, e, homenagear a data de sua morte como o dia da Consciência Negra, feriado em quase todo o Brasil. Transformado Zumbi em líder "negro", abolicionista e anti-imperialista. Entram em cena os falsificadores da História e procuram criar em torno da figura de Zumbi um espécie de herói de uma raça. Que comandava um reduto, um lar de homens livres, sem senhores nem escravos.

Muito e bem diferente de Zumbi, Antônio Vicente Mendes Maciel, nasceu em Quixeramobim, Ceará, no dia 13 de março de 1830. Filho de um comerciante de secos e molhados, que, apesar do alcoolismo, queria um filho padre, ele teve uma boa educação: estudou Aritmética, Geografia, Português, Francês e Latim. Foi professor de Português, Aritmética e Geometria, trabalhou em lojas, tentou abrir seu próprio comércio em pequenas localidades do interior do Ceará e foi advogado autodidata, chegou mesmo a atuar como requerente uma espécie de advogado sem diploma na cidade de Ipu. Tornou-se Antônio Conselheiro em 1874. Passou a ser conhecido logo depois da Proclamação da República, era quem liderava o movimento canudos, classificado na história como um movimento formado por fanáticos religiosos, jagunços e sertanejos sem emprego. Que atribui ao líder Conselheiro, como um beato em que acreditava que havia sido enviado por Deus para acabar com as diferenças sociais e também com os pecados republicanos, entre estes, estavam o casamento civil e a cobrança de impostos. Escreveram e passou para a história, que ele, com estas idéias em mente, conseguiu reunir um grande número de adeptos que acreditavam que seu líder realmente poderia libertá-los da situação de extrema pobreza na qual se encontravam. Que, com o passar do tempo, as idéias iniciais difundiram-se de tal forma que jagunços passaram a utilizar-se das mesmas para justificar seus roubos e suas atitudes que em nada condiziam com nenhum tipo de ensinamento religioso; este fato tirou por completo a tranquilidade na qual os sertanejos daquela região estavam acostumados a viver.

Os Sertões de Euclides da Cunha, que contém mais literatura que reportagem, não pode ser responsabilizado pelos rumos que o mito tomaria mais tarde: de que Canudos seria um reduto de rebeldes anarquistas em luta contra o poder constituído, que foram massacrados porque afrontaram os latifundiários ao abolir a propriedade privada. Antonio Conselheiro teria sido, então, um precursor do MST. Que em Canudos a propriedade era comunal, isso é verdade. Mas não há conteúdo político nas falas de Antonio Conselheiro. Ele não se refere a uma reforma agrária, não desanca os latifundiários, não prega a conquista do poder pelas armas. As cartas enviadas por fazendeiros da região se referem vagamente à possibilidade de desordens, mas não há relatos do povo de Canudos invadindo fazendas ao estilo do MST. Aliás, se fosse possível conferir uma classificação política ao Conselheiro, teríamos que defini-lo como reacionário, pois ele era contra a república.

A verdadeira história de Canudos é que a situação do Nordeste brasileiro, no final do século XIX, era muito precária. Fome, seca, miséria, violência e abandono político afetavam os nordestinos, principalmente, a população mais carente.

Então o governo atacou Canudos por razões políticas, principalmente a insatisfação dos grandes fazendeiros da região com a fuga de mão-de-obra para o modelo de produção do Arraial de Canudos, coletiva e sem os impostos criados pela República.

Os que temiam a concorrência de Conselheiro é que lhe deram combate e destruíram uma obra que se identificava com o melhor sistema de governo aparecido até então no País. Seus opositores, os poderosos de sempre, aqueles que nunca faltaram para pisotear movimentos que contrariassem seus interesses. Eram eles: governo republicano que Conselheiro abominava, pois preferia que o Brasil continuasse monárquico; os senhores de engenho que defendiam a escravidão enquanto ele pregava a abolição; a igreja que começou a ver o crescimento da obra e da influência de Conselheiro, cujos discursos reuniam mais fieis para ouvi-lo sob as árvores do que conseguiam os padres nas paróquias. Igreja e usineiros exigiam providência do governo federal. E como politicamente era interessante atendê-los, Prudente de Morais não perdeu tempo.

Alarmados, fazendeiros e autoridades se viam na iminência de perder sua mão-de-obra devido ao êxodo em massa para o novo arraial. Um relatório da polícia alertou o governo federal de que "um indivíduo pregando doutrinas subversivas fazia grande mal ao Estado, distraindo o povo e arrastando-o após si, procurando convencer de que era o Espírito Santo".

No ano de 1882, o arcebispo da Bahia já enviara carta a todos os religiosos do Estado proibindo os discursos de Conselheiro. Aquela figura magérrima, cabeludo, barbudo, vestido com uma espécie de vestidão que ia até os pés, parecido mesmo como um beato, estava incomodando.

Nessas alturas, Canudos, um vilarejo paupérrimo situado às margens do rio Vasa Barris, crescera tanto que se tornara a terceira maior cidade do interior baiano. Salvador tinha 200 mil, Canudos 25 mil habitantes. Os escravos negros fugiam das roças, onde viviam sob a chibata nas terríveis senzalas e iam se instalar em Monte Santo, arraial de Canudos, Belo Monte, no nordeste da Bahia.

A elite canavieira da época perdia mão de obra gratuita. As vilas se despovoavam. Canudos crescia. Veio o 13 de maio de 1888 e a princesa Izabel punha fim à escravidão. Foi um tiro na religião que dizia que negro não tinha alma e na elite fazendeira que se via sem braço escravo a troco de angu de fubá.

Tanto exigiram do governo da República uma ação contra Canudos que, mesmo sem conhecer os seus fundamentos, se vê pressionada pelas duas maiores forças, providenciando quatro investidas armadas contra o vilarejo. A primeira investida contra Canudos foi destacada por uma força policial para suprimir os rebeldes, destroçada antes de chegar. Isso provocou o envio de dois destacamentos do Exército, os quais também foram desbaratados. Decidiu-se então mandar uma expedição militar completa, com artilharia e armamento moderno, que foi uma vez mais debelada e a soldadesca foi escorraçada pelos moradores do lugar.. Foi então que o governo federal convocou a participação de 17 Estados, inclusive São Paulo, fornecendo tropas, armas, munições e víveres. Organizou-se assim uma quarta expedição comandada pelo Marechal Bittencourt, composta de duas divisões do Exército e da maior concentração de armas já vista no país. Só desse modo e com imensas perdas a cidade rebelde foi vencida, quando se decidiu verter barris de querosene sobre as casas de taipa, queimando vivos os insurrectos. Os homens presos eram degolados ou estripados à faca, as mulheres e as crianças vendidas pelas tropas.

Da cidade pujante e livre restaram só cinzas e fumaça.

Euclides da Cunha foi enviado à frente de batalha como correspondente do Jornal O Estado de S. Paulo, para escrever uma série de reportagens e não teve dificuldade em explicar as razões da força dos rebeldes. Ela era toda baseada na completa ignorância das elites a respeito do povo e do território. O Exército brasileiro era treinado por oficiais belgas, com manuais franceses, sobre táticas adequadas para combater nos Países Baixos. Não se tinha sequer um mapa do interior do país. Não se sabia nada sobre a ecologia das caatingas. Os uniformes vermelhos dos oficiais eram alvo fácil para os sertanejos. Os canhões afundavam no solo arenoso. As roupas de lã desidratavam as tropas. Um festival macabro de ignorância.

Canudos se defendeu com as armas que havia tomado às próprias tropas em fuga. O alerta de Euclides da Cunha era para que as elites desviassem o foco de seu interesse da Europa, voltando-se para reencontrar seu próprio povo e sua terra. Podemos repetir os erros, mas a lição está aí. O momento de o Brasil se encontrar consigo mesmo havia chegado. Durou dois anos a Guerra de Canudos, o Contestado. Mobilizou 12 mil soldados, mais da metade do efetivo nacional.

No dia 14 de julho de 1897, aniversário da Revolução Francesa que pregava igualdade, liberdade e fraternidade o slogan não valia para Canudos. Em 5 de outubro de 1897 termina a resistência sertaneja. Canudos estava destruída. Eram 25 mil vítimas. A grande maioria dos que se renderam foram mortos por degolamento. As cinzas de 5.200 casas rústicas se misturavam com os cadáveres de homens, mulheres e crianças.

Mas Canudos lutou fortemente e só caiu no 4º ataque a cidade, no qual Euclides da Cunha relatou com exatidão o que restou de Belo Monte: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados”.

A elite política, acadêmica, militar e religiosa estava em êxtase. Os deputados baianos se congratulavam com o governo de Prudente de Morais. Queriam que no local reinassem a solidão e a morte. Conseguiram de forma covarde, vil.

Acabava Canudos. Silenciava a voz de Antonio Conselheiro. Erguia-se dos escombros, o silêncio da morte a exibir corpos que antes trabalhavam, produziam, sonhavam.

Foi a vitória da estupidez humana mais uma vez. O acadêmico de medicina Joaquim Orçades escreveu: “eu vi e assisti a sacrificarem-se todos aqueles miseráveis. E com sinceridade o digo: em Canudos foram sacrificados por degolamento quase todos os prisioneiros... Assassinar-se uma mulher pelo simples fato de ser o seu companheiro conivente com o que se dava, é o auge da miséria. Arrancar-se a vida a uma criancinha é o maior dos barbarismos que se pode praticar.

"É chegado o momento para me despedir de vós; que pena, que sentimento tão vivo ocasiona esta despedida em minha alma, à vista do modo benévolo, generoso e caridoso com que me tendes tratado, penhorando-me assim, bastantemente. São estes os testemunhos que me fazem compreender quanto domina em vossos corações tão belo sentimento! Adeus povo, adeus aves, adeus árvores, adeus campos, aceitai minha despedida, que bem demonstra as gratas recordações que levo de vós, que jamais se apagarão da lembrança deste peregrino." _Antonio Conselheiro, carta de despedida, pouco antes de sua morte. 1897 -
Relata a história em que Antonio Conselheiro sendo um beato e fanático religioso, atraindo outros fanáticos seguidores, que ao final, foram sacrificados.

Parecidos como os atentados suicidas de 11 de setembro nos EUA, cometidos por homens convencidos de que seriam recompensados com 12 virgens num outro mundo; como no caso do suicídio coletivo do Templo do Povo, em 1978, quando morreram 912 seguidores de Jim Jones; como os mais de 700 mortos do Movimento da Restauração dos Dez Mandamentos em Uganda.

Uma vida livre das explorações, dos coronéis nordestinos e das espirituais da igreja.
Brancos, negros e mestiços, os seguidores de Antonio Conselheiro não se sacrificaram por recompensas espirituais, e sim, escolheram o direito de se sacrificarem por uma causa que acreditavam ser merecedores e não por recompensas de vida eterna em paraísos celestes.

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