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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

LULA É DE ESQUERDA, SIM!

ESCRITO POR GUSTAVO- BLOG DO CONTRA

Ai, que tédio...


Poucos debates me fazem bocejar tanto quanto o que move alguns setores da esquerda brasileira (sempre ela...): “afinal, o governo Lula é ou não é de esquerda?” E tome blablablá...

O debate é totalmente ocioso, em primeiro lugar, porque essa questão interessa principalmente – na verdade, unicamente – a eles, os esquerdistas. São eles, os de ultra-esquerda, que “acusam” Lula et caterva de não serem de esquerda, ou seja, de não serem tão esquerdistas quanto gostariam que eles fossem (como se a única opção política legítima fosse ser de esquerda...). Morro de rir quando vejo os bestalhões do PSOL ou os porraloucas do PSTU ou do PCO berrando que o PT não é de esquerda, pois é um partido “reformista” e “social-democrata”, logo não-revolucionário etc. O fato de ser esse pessoal os defensores dessa tese oca por si só é suficiente para me afastar dessa discussão. Eles que são vermelhos que se entendam.

Mesmo assim, como não consigo resistir a uma boa polêmica, e como faço questão de botar os pingos nos “is”, vou dizer algumas palavras sobre o assunto.

Antes, porém, uma digressão.

Certo dia vi o Arnaldo Jabor falando na televisão sobre o governo Lula. Ele estava, como de hábito, baixando o pau no governo do Apedeuta, criticando sua corrupção, suas alianças espúrias, seu cinismo desbragado, sua safadeza, sua sem-vergonhice explícita etc. Até aí, nada extraordinário, nada que não seja sabido até dos moleques de rua. Mas então o cineasta saiu-se com algo assim: “Lula não é de esquerda coisa nenhuma; esquerda de verdade é o Serra, é o PSDB”...

Depois, lendo a Folha de S. Paulo, eis que me deparo com um artigo da lulo-petista Eliane Cantanhêde sobre recentes declarações de Dilma Rousseff sobre o apedrejamento de mulheres no Irã. Dilma havia afirmado que, “como mulher”, desaprova a lapidação como um método brutal de execução (talvez se fosse homem, portanto, não veria nada de mais em matar alguém a pedradas...). Mas o que chamou a atenção da colunista da Folha é que Dilma, aparentemente, estaria se distanciando da posição de seu mentor Lula, que em várias ocasiões cantou e andou para o que o regime de seu amigo Ahmadinejad faz com o povo iraniano. Para ela, Dilma Rousseff estaria dando sinais de que “seu” governo levaria em conta, pelo menos no Irã, a questão dos direitos humanos. E arrematou: com isso, ela, Dilma, estaria fazendo uma escolha clara por uma política externa mais “de esquerda”...

São duas as conclusões possíveis decorrentes dos dois exemplos acima:

- O governo Lula não é de esquerda, porque é corrupto e demagógico (Jabor); e

- A causa dos direitos humanos é de esquerda (Cantanhêde).
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(Ou seja: 1) corrupção e demagogia são características "de direita" e 2) A "direita" é inimiga dos direitos humanos.)

Não mais do que dois neurônios são necessários para que se perceba que as duas teses acima são completamente mentirosas, eu diria mesmo ofensivas à inteligência e à História. Se tem uma coisa que esta última mostra à exaustão é que corrupção e demagogia, assim como o desprezo aos direitos humanos, andam lado a lado de regimes e ideologias esquerdistas. Se têm alguma dúvida, dêem uma olhada em certa ilha do Caribe ou na história da Europa Oriental nos últimos oitenta anos e tentem refutar que isso seja verdade. Está lançado o desafio.

À parte alguns fatos óbvios que a esquerda brasileira insiste em negar – que o PSDB do estatista e ex-presidente da UNE José Serra e do marxiano teórico da dependência FHC também é de esquerda –, as afirmações de Jabor e de Cantanhêde – dois “formadores de opinião” – apontam para um fato lastimável e incompreensível, que já demonstrei em vários textos meus anteriores: ser de “esquerda”, no Brasil, é ser o lado bom, inteligente e sexy da humanidade. Por dedução, ser de direita, ou declarar-se como tal, equivale a passar recibo de criminoso ou de mau-caráter. É como se Stálin e Mao Tsé-Tung, que eram de esquerda, não tivessem existido. Ou como se Winston Churchill, que era de direita, também não. Daí a política no Brasil ter-se reduzido a uma assembléia de esquerdistas, e as eleições, a um campeonato de esquerdismo – no qual, logicamente, sai vencedor o mais esquerdista. Enfim, uma ditadura mental, sem lugar para a pluralidade.

Feita essa digressão, voltemos à questão principal do texto: Lula é de esquerda?

Tenho uma péssima notícia para os esquerdiotas: Lula é um deles. É de esquerda. E isso não é assim porque eu quero que seja. É assim porque os fatos estão aí para mostrar. Ou então tentem refutar o que se segue, se puderem.

Lula é de esquerda, em primeiro lugar, porque é ele mesmo quem o diz. Assim como dez em cada dez políticos brasileiros, é bom dizer. Isso, se não serve em si de prova – não devemos julgar fulano pelo que ele diz de si mesmo, é verdade – forma um conjunto probatório irrefutavel à luz de outros elementos. Vou tentar ser mais claro.

Um bobalhão desses daí resolveu escrever o seguinte na área de comentários de meu blog (ele estava se referindo a alguns fatos óbvios citados por mim em outro texto):

“A política econômica do Lula é neoliberal. Lula promovedor de uma revolução maoísta?!? Você bebeu o que, companheiro? Lula não faz revolução nem aqui no Brasil, nem na China.”

Ai, ai... Pelo menos uma vez eu gostaria de ser acusado pelo que digo, não pelo que não digo. E me lembro bem do que eu não disse. Não afirmei, para comeco de conversa, que Lula promove uma revolução maoísta – quem faz isso é o MST. Basta ler qualquer texto produzido pela turma de João Pedro Stédile para constatar isso (recomendo A Democracia Ameaçada, de Denis Lerrer Rosenfeld, para quem quiser saber o que realmente querem os emessetistas). O que faz o governo dos companheiros? Dá dinheiro para o MST continuar com suas invasões (que eles chamam “ocupações”). Isso é promover a revolução? Não sei. Sei apenas que é promover a baderna. Agora, o MST não é de esquerda? Talvez para o autor da frase acima não seja de esquerda o bastante. Para mim, assim como para todos os que tiveram as propriedades invadidas e depredadas por esses extremistas farofeiros, é.

Além do mais, pode-se ser esquerdista sem ser revolucionário. Basta ser esperto. Basta ser cara-de-pau. E isso Lula é até demais. Preciso dizer por quê?

O mesmo idiota dá a entender, em outro comentário, que as FARC “não são de esquerda”. Pergunto-me o que elas devem fazer para que ele as considere como tal. Matar mais e sequestrar mais gente em nome da revolução comunista? É que ele deve achar que o narcotráfico é “de direita”... Entendi.

Mas querem saber como o governo Lula (e, agora, o de sua criatura) é, digamos, "pouco esquerdista"? Vejam a política externa. Nos últimos sete anos, a política externa brasileira não fez mais do que cortejar ditaduras como as de Cuba e tiranetes como Hugo Chávez da Venezuela, tudo para afrontar eles, uzamericânu. Um antiamericanismo tosco, da Idade da Pedra, pontuado por alianças saídas diretamente do Foro de São Paulo, criado por Lula e Fidel Castro para “restabelecer na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu”... Digam-me que tirano antiamericano, que regime antiocidental, não foi paparicado pelo Itamaraty durante o governo Lula! Por que será que o Apedeuta se empenhou tanto nisso? Deve ter sido por excesso de direitismo, claro...

“Ah mas e a política econômica 'neoliberal'?”, perguntam os idiotas da objetividade. Esse é o principal “argumento” dos que pensam que Lula da Silva é um modelo de responsabilidade fiscal e de compromisso com o mercado. Tenho a dizer o seguinte (além de lamentar que, de liberal – ou “neoliberal”, como gostam de dizer os esquerdóides – a politica econômica de FHC, e muito menos a de Lula, tenha muito pouco, infelizmente):

Nada mais “neoliberal” do que a ditadura comunista da China. E nem por isso o regime de Pequim deixa de ser o que é: uma ditadura comunista. Alguma dúvida quanto a isso?

Além do mais, olha aí a História de novo que não me deixa mentir: em 1924, após tomarem o poder sete anos antes (no que foi, é bom dizer, um golpe de Estado), Lênin e os bolcheviques implementaram a Nova Política Econômica (NEP), que restabeleceu a propriedade privada e chamou de volta os capitalistas. Os comunistas russos decidiram agir desse modo assim que viram que não havia outro jeito de fazer a economia funcionar. Assim como os comunistas chineses ou vietnamitas de hoje, eles perceberam que não importa a cor do gato, desde que ele pegue o rato – ou seja: que a politica econômica adotada, seja qual for, conserve o poder político.

Na verdade, é perfeitamente possível conciliar um sistema econômico na prática capitalista com uma ditadura comunista brutal. É por não entenderem essa verdade evidente, e por não serem capazes de enxergar um milimetro além de seus lucros imediatos, que muitos empresários acham a China de hoje o máximo e acreditam, ou querem acreditar, que a própria economia irá levar o país a virar um dia uma democracia. Não caio nessa, até porque já estive lá.

Outra coisa fundamental: toda essa lengalenga de que Lula não seria de esquerda não tem nada de novo. Pelo contrário: historicamente, se há uma característica dos esquerdistas, é que eles sempre se acusaram mutuamente de não serem de esquerda o suficiente.

Anarquistas já “acusavam” Marx de “direitista” na época da I Internacional, fundada em 1864. Posteriormente, na II Internacional (1889-1914), marxistas de esquerda e de direita se digladiaram para saber quem era mais radical e mais anticapitalista. Trotsky tornou-se inimigo de Stalin não pelos crimes deste, mas porque, dizia, ele não era, segundo pensava, um marxista de verdade. Os trotskistas de hoje papagueiam esse discurso, afirmando que a URSS “não era socialista” e divergindo entre si, acusando-se – adivinhem – de não serem demasiado esquerdistas... E por aí vai, ad aeternum.

Em todos esses momentos, há pelo menos uns cento e trinta anos, o padrão é o mesmo: trata-se de um discurso para salvar a esquerda, pura e simplesmente. A mensagem é: “É diferente do que eu acho que deveria ser? Então não é socialismo”; “Não me agrada? Então não é de esquerda.” E assim, o ciclo continua, até que apareca alguém mais radical acusando os radicais de hoje de serem excessivamente moderados etc. etc. Que alguns milhões de pessoas pereçam nessa luta por algo que não se sabe exatamente o que seria, é algo que não tem importância.

Para ficar mais claro: se Lula resolvesse dissolver o Congresso e nacionalizar todas as empresas capitalistas, proclamando, sei, lá, a República Petista do Brasil, ainda assim haveria um grupo de extrema-esquerda dizendo que isso não é esquerdista ou revolucionário o suficiente.

Nada disso, claro, faz diferença para os devotos do culto esquerdista. Para eles, tudo se resume no seguinte esquema: a direita é reacionária; o centro é pragmático e a esquerda (ou seja, eles mesmos) é revolucionária. Minha experiência num grupo trotskista quando eu era adolescente me tornaram imune a esses argumentos simplistas e simplórios.

Tem gente que acha que o governo Lula não é de esquerda o suficiente. Devem achar que dar dinheiro ao MST, ter relacões com as FARC, querer censurar a imprensa, alinhar-se a Hugo Chavez e a Evo Morales, participar do Foro de São Paulo e apoiar tudo quanto é ditador antiamericano no planeta é excesso de direitismo. Como já disse antes, isso tudo é de esquerda o bastante para mim.

É chato ter de explicar aos esquerdiotas e esquerdopatas quem eles mesmos são. Mas é preciso fazê-lo. A burrice desse pessoal não tem limites.

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