A UPEC se propõe a ser uma voz firme e forte em defesa da ética na política e na vida nacional e em defesa da cidadania. Pretendemos levar a consciência de cidadania além dos limites do virtual, através de ações decisivas e responsáveis.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Penso que o Brasil hoje é a Espanha em 2003, numa versão 2.0.




Para Santiago Nino Becerra, Brasil segue o mesmo caminho adotado pela Espanha, de endividamento e de crescimento pelo crédito


Jamil Chade
O Estado de S. Paulo
MADRI

A Espanha é "irresgatável" e seus crescimento nos últimos anos foi "baseado numa ficção".

O alerta é de uma das principais referências hoje na Espanha, o economista Santiago Nino Becerra, autor de dois livros sobre a crise econômica que afeta o país. Em entrevista ao Estado, o economista diz que um resgate para a Espanha custaria 800 bilhões à UE e ao FMI, dinheiro que "simplesmente não existe". Becerra também alerta que há sinais claros de que o Brasil está seguindo o mesmo caminho de endividamento e de crescimento pelo crédito adotado pela Espanha há dez anos. "O Brasil hoje é a Espanha de 2003, em versão 2.0."


A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como, depois de anos de euforia, a Espanha chegou a essa situação? A festa não era real?


A festa em todo o mundo tem sido uma ficção e ainda é uma ficção nos países onde continua. Quando a capacidade de endividamento se esgotou, o pagamento da dívida se tornou impossível.

Como o sr. explica que ninguém na classe política viu essa ameaça e a criação de bolhas?
Certamente sabiam. Mas tinham de ignorar essa possibilidade. O hiperendividamento era, desde o final dos anos 80, a única opção para crescer.

O sr. já alertava para os riscos em 2006. O que diziam as pessoas ao ouvir essa advertência?


Quem me escutava admitia que o crescimento da dívida era insustentável. Na Espanha, entre 1996 e 2005, a dívida privada cresceu 140%.

Na segunda-feira, quando um novo governo assume o poder, há coisas que ele possa fazer diferente do governo atual para solucionar a crise?

Na segunda-feira, alguém ligará para Moncloa (palácio do governo) e perguntará pelo presidente do novo governo e dirá a ele que pegue papel e lápis para tomar nota do que terá de fazer o novo governo do Reino da Espanha. Isso se já não lhe foi dito.

Depois de Portugal, Irlanda e Grécia, a Espanha é resgatável?

A Espanha é irresgatável, assim como a Itália. Seriam necessários uns 800 bilhões, valor que simplesmente não existe.

Os planos de austeridade terão efeitos sociais profundos. Serão suficientes para tirar os países da crise?

O problema não é o gasto, e sim a arrecadação. Ao não crescer, a arrecadação é reduzida e a renda pública cai. Como os países europeus têm compromisso de déficit, a única possibilidade é o corte de gastos públicos, mesmo que isso deprima ainda mais a economia.

O Brasil vive um boom. A Espanha pode servir de lição sobre como não fazer as coisas?

Acredito que o Brasil vive uma situação virtual como a que viveu a Espanha de 1995 a 2007.

Pelo que eu sei, a economia brasileira navega em um mar de créditos no qual o governo incentiva o consumo de tudo, como ocorreu na Espanha.

Para "resolver" a questão da distribuição de renda, o Brasil deu acesso a crédito a um porcentual enorme da população.

Algo parecido com o que ocorreu na Espanha.

De 1997 a 2007, os salários reais dos espanhóis só cresceram 0,7%.

Mas a população consumiu de tudo.

Penso que o Brasil hoje é a Espanha em 2003, numa versão 2.0.

18 de novembro de 2011

Nenhum comentário: