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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

SOLIPSISMO E MENSALÃO

SOLIPSISMO E MENSALÃO

“Toda verdade passa por três fases:

primeiro é ridicularizada;

segundo, é violentamente atacada;

terceiro, é aceita como evidente.”

Arthur Schopenhauer

Waldo Luís Viana*

Solipsismo é a concepção filosófica de que, além de nós, só existem as nossas experiências. Devido a isso, a única certeza de existência é o pensamento, instância que controla a vontade. O mundo ao redor é apenas um esboço virtual do que o Ser imagina. Se o mundo ao redor é apenas um esboço virtual, as pessoas e o mundo objetivo só podem ser uma experiência mental e distorcida...

Essa corrente filosófica, neo-escolástica e disseminada no século XVII, volta com toda força em nossa época de informática, fractais, matrix e na argumentação falaciosa dos governos do PT.

O partido que antes de fincar os pés no poder era a oposição mais renhida contra a corrupção, hoje é o partido do “chame os ladrões!” E o pior é que eles comparecem, batendo continência para ONGS fajutas, superfaturamentos de obras e consultorias milionárias. A corrupção ganhou até um eufemismo: “mal-feito”, como se fossem seus autores crianças apanhadas em alguma peraltice, bastando saírem de cena para acabar o castigo.

Nem vale a pena falar no primeiro ano do atual governo, com recorde mundial de seis ministros demitidos por “mal-feitos”, porque a tendência é a lista se alargar, em virtude de que quanto mais se mexe no que não presta à montante, mais se suja o rio à jusante.

O ponto fulcral, no entanto, da esquerda arquitetura é provar em breve que o mensalão do PT – os tais quarenta ladrões, sem Ali Babá, lembram-se! – jamais existiu! Foi apenas uma invenção da imprensa golpista que detesta o ex-presidente, hoje careca, e seus (bem) feitos...

Invoca-se a instalação de uma realidade distorcida, diante dos imperativos interesses do poder instalado. Tendo como aliados a natural lentidão da Justiça e o tamanho do processo, sabe-se que a chicana dos advogados ricos e seus múltiplos recursos cairão em campo para toldar qualquer julgamento sério. Existe, inclusive, o perigo de o processo ser desdobrado, voltando parte dele à primeira instância, o que equivaleria à sua virtual extinção. Mero solipsismo!

Quanto mais o tempo passar, mais os filósofos petistas, do tipo acadêmico-paulistas, continuarão dizendo que não houve “mensalão”, apenas financiamento de caixa dois de campanha, dinheiro inocente e não contabilizado para satisfazer os partidos aliados que não puderam pagar dívidas pós-eleitorais. Enfim, mera piada de salão de quem não tem mais o que fazer...

A realidade distorcida ficou evidente com a tentativa de recuperação moral e eleitoral dos personagens incriminados, que vêm voltando gradativamente ao poder, como se nada houvesse acontecido.

Afinal, não houve dinheiro na cueca e nenhum publicitário careca gerindo as “unhas encravadas” selecionadas por um ex-tesoureiro. Não houve mesada a parlamentares para assegurar maioria no Congresso, em 2005, assim como o olho ferido do então denunciante foi apenas decorrente da funesta queda de uma estante em sua casa.

O interessante é que a oposição, que à época ingenuamente desejava ver o mandatário sangrar, não percebeu que o presidente era apoiado por rentistas externos (160 bilhões por ano de juros) e pelos internos, porque os lucros dos bancos brasileiros jamais exorbitaram tanto na história da República. Nesse contexto, foi a nossa burguesia de esquerda, somada à direita oligárquica mais hipócrita, que conseguiu superar a crise e garantir a reeleição do ex-metalúrgico. Aí então o povo foi ao paraíso e, narcotizado, esqueceu-se de vez do mensalão...

Como a mesma operação se deu em Minas e em Brasília, provando que era sistêmico o processo, afetando também próceres da oposição, ficou o dito pelo não dito – todos preocupados em esconder a realidade podre que é melhor mesmo que não exista...

‘Stamos em pleno mar de corrupção, revolto, e nós, os brasileiros somos os escravos de um fantasmagórico navio negreiro, vergastados pela chibata dos impostos, das carências de infraestrutura e dos monumentais eventos esportivos vindouros, que custarão os olhos e as vísceras da Nação.

Nosso governo é solipsista, isto é, não pode ser conhecido em si mesmo e nem ao menos criticado, porque seus pecados não existem, são mera projeção de nossos mórbidos pensamentos, porque muitos de nós, teimosos e arredios, ainda não nos acostumamos de verdade a amar o Grande Irmão!

E como seremos felizes quando soubermos que aquilo que nos incomoda – e às vezes até aparece de vez em quando em nossa memória – jamais existiu?

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*Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e já está quase acreditando que o mensalão do PT jamais existiu...

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