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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Por Reinaldo Azevedo - 08/02/2012

08/02/2012
às 6:43

O grande acerto e o grande erro do principal partido de oposição

O tema é complexo e não se esgota em um texto. São necessários milhares; a rigor não trato de outra coisa desde 2006. Todos vimos lideranças do PSDB ontem a apontar o óbvio: o discurso e a militância petista contra as privatizações é uma farsa. E é uma farsa que combina várias frentes, alcançando o submundo do subjornalismo a soldo, que iniciou uma campanha na Internet para tentar provar que o que se fez nos aeroportos não é privatização, mas “concessão”. Lixo! Vamos ao que interessa.

Eu mesmo apontei aqui que os petistas chegaram aonde o PSDB já havia chegado, mas com 15 anos de atraso. O país experimenta sérias deficiências na infraestrutura porque os petistas tinham de fazer a sua mímica antiprivatista, contra o neoliberalismo, aquela bobajada toda… O senador Aécio Neves (PSDB-MG), ungido por FHC como “candidato óbvio” dos tucanos em 2014 desde que mostre serviço (sintetizo o espírito da coisa…), recorreu a uma imagem que o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros já empregava em 2003 — há 9 anos, portanto — e afirmou que Dilma usa um software pirata do PSDB ao optar agora pelas privatizações. Está tentando, em suma, mostrar o tal serviço que FHC cobrou. É razoável que os tucanos apontem essas incoerências do PT? É, sim! Mas está falando exatamente com quem?

Sim, é verdade, as bandeiras tucanas foram todas roubadas, surrupiadas mesmo!, pelos petistas. Lula, um político muito popular, conseguiu fazer “o mais do mesmo” parecer uma revolução. Boa parte das conquistas de seu governo, sabe-se, derivam dos ajustes — alguns impopulares, como a reestruturação dos bancos privados e estaduais — feitos por seu antecessor, que, não obstante, foi demonizado. Isso para não falar na enorme, na gigantesca tarefa que foi implementar o Plano Real, a raiz profunda da estabilidade experimentada por Lula e agora por Dilma — ainda que, acho eu, sejam muitas as dificuldades que o Brasil está contratando para o futuro. Mas não adianta fazer previsão pessimista em meio à bonança, ou quase isso. Adiantasse, não teria havido 1929 e a atual crise na Europa e nos EUA.

Eu estou entre aqueles que acham, sim, que o PSDB precisa tratar muito melhor a sua história e atuar com mais firmeza e clareza junto aos tais formadores de opinião para retirar o seu próprio passado dos escombros, soterrado pelas muitas mentiras que Lula contou sobre si mesmo e sobre seus adversários. Mas isso é muito pouco — a rigor, é quase nada. Quantos serão sensíveis a esse tipo de apelo? Com que público, afinal de contas, os tucanos estão falando e quais setores da sociedade contam mobilizar com isso? Eu ousaria dizer, infelizmente, que a pregação corre o risco de cair no vazio. Não há hoje, e não estou dizendo que isso seja necessariamente bom, grandes divergências sobre as escolhas “macro”. A privatização, nesse sentido, é um bom exemplo. O fato é que essas questões não chegam exatamente a dividir opiniões. E então chego aonde quero.

As oposições precisam mudar o, vamos dizer, canal de interlocução com a população. Em artigo recente no Estadão, FHC falou de um partido que tem de estar presente “nas universidades, nas organizações populares, nas associações de classe”. Huuummm… Não sei, não… Será mesmo? Não estará o brilhante FHC sendo traído por suas antigas raízes na esquerda? Não estaria ignorando que ele próprio foi um presidente que fez um bem imenso ao povo brasileiro não porque vocalizasse a pauta desses fóruns dominados por “progressistas”, mas porque soube interpretar uma vontade que ia nas ruas: o fim da inflação? Não que as esquerdas gostassem da inflação. É que sua agenda era de outra natureza. A grande aliança que o tucano conseguiu fazer, vital para a modernização do país, foi mesmo com o PFL. Passou longe das “universidades” ou das “organizações populares”. Ainda bem! Dominadas que estavam e ainda estão pelo petismo, eram estupidamente nacionalistas, socializantes e estatizantes — na exata contramão daquilo que precisava ser feito.

Mas aquele trem passou. Esses setores a que FHC se refere, antes apenas franjas do PT, são hoje braços cooptados e remunerados pelo partido. Lamento! Mas são, vamos dizer, indisputáveis. Vá perguntar nos EUA ou na França se os conservadores tentam disputar influência com os democratas ou com os socialistas nos sindicatos, por exemplo. Sabem que sua praia é outra. E chegamos ao busílis. O PSDB terá a coragem de ser um partido conservador? Refiro-me a uma esfera sempre ausente da política brasileira porque considerada inferior pelos “progressistas” e pelos “donos da opinião”: a dos valores. Não há país democrático no mundo sem um partido conservador forte. O Brasil parece pretender oferecer mais essa jabuticaba.

O que estou querendo dizer é que aquele esforço dos tucanos de demonstrar que Dilma, ao privatizar aeroportos, segue a agenda do PSDB está, em si correto porque é verdade. Mas é de uma brutal ineficiência política. Ok, ok, na próxima campanha eleitoral, talvez não voltem os petistas à ladainha antiprivatista das três últimas campanhas…. Mas isso é muito pouco. O meu ponto: se o PSDB tentar disputar a influência em terrenos já seqüestrados pelo petismo, vai, obviamente, quebrar a cara. Ao contrário: o partido tem de aprender é a falar com o “eleitor Todo Mundo”, aquele que não pertence a aparelhos. Mas, para tanto, terá de dar uma bela sacudida em si mesmo. Ou tende a desaparecer.

Faltam exemplos neste texto, eu sei. E chegou a hora de elencá-los. Onde estava e, de certo modo, onde está o PSDB COMO PARTIDO — não como expressão isolada de um líder ou outro — nessa crise do Pinheirinho? Aécio Neves é agora “o candidato óbvio”, certo? Como reagiu a uma das maiores orquestrações de que se tem notícia do governo federal contra um governo estadual de um aliado seu? Houve uma verdadeira conjuração palaciana contra Geraldo Alckmin e contra São Paulo, de braços dados com mentirosos profissionais, canalhas a soldo pagos com dinheiro público para caluniar, injuriar, difamar… E o que fez Sérgio Guerra nesse tempo? E o CONJUNTO - não um ou outro - dos deputados e senadores? Houve, sim, manifestações esparsas e esporádicas, mas, lamento!, NÃO SE VIU UM PARTIDO.

Por quê? Ora, porque é fato que havia muitos tucanos tentando se afastar do problema, temendo a máquina oficial de propaganda. Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, emitiu uma dura nota a respeito — Guerra estava fora do país. Mas ela não parecia traduzir a indignação da legenda como um todo. Muitos talvez quisessem que isso é “coisa lá de São Paulo”. Sim, senhores! Estamos tratando agora da esfera de valores, esta na qual os tucanos não entram de jeito nenhum! Têm um pavor patológico de parecer “reacionários”. Às vezes, fico com a impressão que muitos deles lutam desesperadamente para ser considerados boas pessoas pelos… petistas!

Vamos avançar um tantinho mais, para deixar alguns tucanos ainda mais escandalizados. Um partido que estivesse, como se diz, “nos cascos” não deixaria passar em branco as declarações da nova ministra da Secretaria das Mulheres, a tal Eleonora Menicucci, que andou a dizer barbaridades ontem sobre o aborto. Qualquer partido decente, ainda que achasse a cureta um verdadeiro poema, repudiaria os termos e, sobretudo, destacaria que a escolha vai na contramão do discurso da candidata Dilma Rousseff. Mas é evidente que o PSDB não o fará porque já li aqui e ali que alguns deles consideram o debate de 2010 um equívoco — como se ele tivesse sido feito pelo partido. Errado! Foi feito por parcelas da sociedade.

Daqui a pouco, a tal lei que criminaliza a homofobia voltará à pauta. Vamos ver em que termos. A chance de que se tente impor, sob o pretexto de garantir a igualdade, uma forma de censura, especialmente religiosa, é imensa. O PSDB terá a coragem de defender a liberdade de crença ou tentará disputar influência com o PT no movimento gay — o que sempre será inútil? Até a greve dos policiais da Bahia fala um tanto do PSDB. Apoiar o movimento seria, obviamente, impensável, e não serei eu, que me oponho à greve de qualquer servidor público, a recomendá-lo. Apontar, no entanto, a irresponsabilidade do viajante Jaques Wagner é um imperativo político e moral.

Sim, tucanos, um dia uma parcela dos historiadores — não todos porque os tarados ideológicos não o farão — vai reconhecer os méritos da gestão de FHC e os truques todos a que recorreu Lula para esconder a obra do antecessor. É importante que vocês digam a verdade, na esperança de que vire um registro. Mas a política mesmo está em outro lugar, está com os valores. Se o PSDB não seguir o exemplo dos grandes partidos de oposição do mundo democrático, que têm a coragem de debatê-los, pode, então, pendurar a chuteira.

Só que há um porém: na média, o povo brasileiro é bem mais conservador do que a esmagadora maioria dos tucanos. Ou eles decifram esse povo ou serão devorados de novo.

Por Reinaldo Azevedo

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