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quarta-feira, 18 de julho de 2012

É evidente que o PT e os petralhas transformaram a CPI num pelotão de fuzilamento de oposicionistas. Ou: A moral profunda desses gigantes da decência

18/07/2012
às 19:45
Se me perguntarem se acho que a venda da casa do governador de Goiás, Marconi Perillo, está devidamente explicada, a resposta, obviamente, é “não”. Parece haver gente demais da operação. E a tarefa de dirimir as dúvidas é de Perillo, com o apoio do seu partido, o PSDB. Seria realmente muito bom que uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito — do Congresso Nacional, pois — estivesse disposta a investigar a fundo as lambanças que o esquema Cachoeira trouxe à tona. Como todos sabemos, o contraventor era apenas o braço regional de uma esquema muito maior, que atende pelo nome de “Delta”. Ocorre que a CPI se transformou num pelotão de fuzilamento a serviço do PT. E ponto final.

Digamos, falo por hipótese, que se faça justiça caso Perillo venha a ser de algum modo punido — além da punição já em curso, que atinge a sua reputação. E os outros? Será que o PT está mesmo disposto a investigar? Um episódio, mais do que qualquer outro, ilustra a disposição da comissão: no dia 5 de julho — eu estava de férias e, por isso, não escrevi sobre o assunto — a comissão aprovou a convocação de algumas personagens, entre eles Fernando Cavendish, dono da Delta; Luiz Antonio Pagot, ex-presidente do Dnit, e Paulo Viera de Souza, ex-presidente da Dersa.

Muito bem! Motivos óbvios explicam a convocação de Cavendish. Aliás, a demora em fazê-lo é que é, por si, um escândalo. Pagot dirigia o órgão que mais negociava com a Delta e caiu à esteira de uma pletora de escândalos no Ministério do Transportes. Mas e Paulo Vieira de Souza, que parte da imprensa chama “Paulo Preto”? Ora, é evidente que se trata de uma tentativa de jogar São Paulo no escândalo — afinal, a grande batalha eleitoral do petismo se trava mesmo é na capital paulista.

Além do ânimo persecutório, o que justifica a convocação de Souza? Numa de suas entrevistas, Pagot afirmou que ele fez pressão pela liberação de recursos do Dnit para o Rodoanel, em São Paulo, e que o objetivo seria fazer caixa de campanha. Certo! Então que se convoque. OCORRE QUE, na mesma entrevista, ele afirmou que José Fillipi Jr., tesoureiro da campanha de Dilma em 2010, arrecadou dinheiro das empreiteiras que tinham contrato com o Dnit. Souza foi convocado, mas Fillipi Jr. não! Segundo o petista Odair Cunha (MG), relator da CPI, nada há contra o ex-tesoureiro de Dilma. E contra Souza, deputado, há exatamente o quê?

É claro que vai haver um vagabundo ou outro que sairão a proclamar: “Olhem o Reinaldo tentando defender os tucanos!” Dizem coisa pior do que isso. O papel de vagabundos a soldo é fazer, afinal, vagabundices. O ponto, evidentemente, é outro. Bruno Araújo (PE), líder do PT na Câmara, lembra alguns números que são, sim, eloquentes: o PSDB governa metade do PIB brasileiro e celebrou apenas 6% do montante de contratos da Delta com o poder público. Os outros 94% estão nas mãos do PT (incluindo o governo federal), do PMDB e do PR. E os tucanos é que vão parar no paredão?

“Ué, se cometeram irregularidades, eles que se vierem…” Claro, claro! O laranjal criado pela Delta, por exemplo, servia a quem? Ao governador de Goiás? É evidente que a investigação é seletiva, tem alvo — e isso é coisa de tribunal de exceção. Para os representantes da oposição, há um critério; para os do governismo, outro. Querem outro exemplo?

Um dos elementos destacados com ênfase pelos governistas no depoimento de Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal, foram as gravações em que Cachoeira e sua turma expressavam o seu descontentamento com decisões tomadas por Agnelo. As falas foram vistas como evidência de que o contraventor tentava, sem sucesso, induzir as ações do governador. Na gravação que veio a público recentemente, Cachoeira solta os cachorros contra Perillo porque não consegue fazer as nomeações que pretendia fazer. Pergunto: quando o esquema criminoso reclamava da resistência de Agnelo, aquilo servia de evidência do bom comportamento do petista, mas, quando reclama de Perillo, isso deve ser visto como prova contra o tucano? Há algo de estranho aí.

Qual é? Esta CPI será encerrada sem que se investiguem as relações da Delta com o governo federal e com o governo do Rio de Janeiro? De quebra, ainda estão tentando jogar São Paulo no imbróglio para ver se conseguem tirar Fernando Haddad do pântano eleitoral? Os governistas, liderados pelo PT, estão usando a maioria que têm na CPI para transformar a comissão num tribunal de exceção. Atenção, “espadachins da reputação alheia” (a expressão de Balzac; eu os chamo mesmo é de “vagabundos”): o que caracteriza um tribunal de exceção não é apenas a punição injusta; também é discricionário o tribunal que pune os inimigos, ainda que merecidamente, e preserva os amigos de modo desmerecido.

Para encerrar: é evidente que os deputados Odair Cunha (PT-MG) e Paulo Teixeira (PT-SP) perderam, no ponto de vista ético, a condição de ser, respectivamente, relator e vice-presidente da CPI. Os dois já se comportaram como prosélitos da condenação de Perillo e da defesa de petistas e outros governistas. Nunca antes na história destepaiz se viu isso numa CPI. Também, convenham: esta é a primeira comissão da história das democracias — não só da brasileira — em que a maioria forma um comitê de investigação parlamentar para perseguir a minoria.

Boa parte dos meus coleguinhas se contenta com a “justiça seletiva”? Eu não me contento. Digamos que Perillo seja mesmo culpado e que o PT estivesse no seu encalço por apreço à ética. As coisas estariam institucionalmente no seu devido lugar. Ocorre que, para os petistas, pouco importa se o governador é culpado ou inocente: o que importa é que ele é tucano — e isso quer dizer “culpado”. Ou os mesmos gigantes da ética não se ocupariam de, a um só tempo, fuzilar Perillo e defender os Dirceus, Delúbios e Genoinos. Também nesse caso, pouco importa se são culpados ou inocentes; o que importa é que eles são petistas — e isso quer dizer “inocentes”.

Esses professores de ética seguem uma máxima: os adversários são sempre culpados, mesmo quando inocentes; os aliados são sempre inocentes, mesmo quando culpados.

Por Reinaldo Azevedo

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