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sexta-feira, 20 de março de 2015

ESCRITO POR EDITORIA MSM | 24 JUNHO 2005 
por  José Carlos Graça Wagner
Os contatos entre o Foro de São Paulo e o Diálogo Interamericano ajudariam a entender a enorme falta de ação da oposição aos desmandos do governo petista?
8 de setembro de 2001
Senhor congressista:
Trata-se aqui de mensagem de cidadão. Por isso, este documento, pela via de E.Mail, está sendo enviado, hoje, para todos os senadores e deputados, sem quaisquer restrições, inclusive os do PT, que poderão se considerar atingidos pelas denúncias, mas tem o dever de esclarecê-las, para o que coloco, à disposição, toda a documentação que tenho em meu poder e o compromisso de indicar as testemunhas que confirmarão o que abaixo está descrito. Pela matéria envolvida, desejo dar ao presente documento o caráter de requerimento dirigido ã Mesa do Congresso, para que, pela gravidade dos fatos, tome as providências que achar adequadas ou assuma a responsabilidade de nada fazer, por motivos de conveniência.
Permita-me, assim, tomar o seu tempo, se houver disposição de sua parte, mas, como tal, me sinto na obrigação de transmitir o que me chegou ao conhecimento, por pesquisa e por informação de terceiros que chegaram a viver os fatos, para que, cada um, em sua consciência, faça o que julgar do seu dever.
Não pretendo fazer nenhum tipo de carnaval político sobre a matéria, até porque vai longe o tempo de minha militância política. Por outro lado, a minha avaliação sobre tais documentos, ainda que impossível evitar algum tipo de conclusões mais pessoais, não se baseiam em meras hipóteses.
Estou em Miami, por razões de saúde, pelo menos por um período de 40 dias. Tive um problema, bastante comum entre as pessoas, de qualquer idade, que, todavia, exige a prudência de exames cardiológicos ou talvez uma intervenção, sem, antes disso, assumir o risco de uma viagem de avião mais longa, segundo as opiniões médicas. Por isso adoto a presente via de comunicação, sem qualquer anonimato.
Mas quero deixar claro porque o faço e na base de que convicções, para que não se julgue que estou procurando ser autor de novelas ou historietas. Deixo também claro que, com 14 anos, me posicionei contra a ditadura do Estado Novo, tendo participado da manifestação do Largo de São Francisco, contra a ditadura, embora secundarista, quando houve a reação armada da chamada Polícia Especial ou boinas vermelhas, com mortos e feridos, em 1943. Por isso, quando a ditadura caiu, me filiei a UDN, só deixando a política em virtude do fechamento dos partidos, pelo AI-2, quando foram criados os arremedos de partido da Arena e MDB. Minha posição sempre foi de centro, de tal modo que, o que vem a seguir, não é movido por nenhuma intenção de qualquer anti-isso ou anti-aquilo para impressionar a gregos e troianos.
Meu anti-marxismo, mais do que anti-comunismo, decorre de minha condição de católico, que procurou conhecer a essência do pensamento de Marx, que não era, como se julga, provocada pela questão social, mas religiosa.
Entendia que o homem, ao colocar Deus como autor de sua existência, abria mão de sua natureza materialista, que, para ele, era materialista, como tudo que existe no mundo. Ao atribuir o seu ser, e o seu fim último, a Deus, estava renunciando a si mesmo. O marxismo, antes de tudo, é uma negação radical de Deus e, portanto, dos valores da moral natural inerente ao homem. O marxismo vai além do ateísmo, pois considera que negar a Deus é insuficiente. Negar, para Marx, ainda é uma forma de afirmar, porque exige a defesa da Sua não existência e, para isso, é necessário pensar nela, para rebatê-la.
Para Marx, o homem novo, concebido em sua filosofia, sequer cogitaria da existência ou não de Deus. Simplesmente, nesse mundo de Marx, nem sequer existiria a idéia de Deus. O Comunismo, como instrumento do marxismo, ainda teria, para construir o mundo novo, de conseguir o desaparecimento da idéia de Deus.
Para mim, desde jovem, formado pelos irmãos maristas de Santos, na mesma classe que Mário Covas, o meu anti-comunismo não era para defesa de privilégios de natureza econômica ou social, ainda que eles existam longe do conceito de justiça inerente ao catolicismo, mas, pelo contrário, decorria da própria necessidade de defender a doutrina católica, na qual Deus é o Criador e Redentor de todos os homens, sem qualquer distinção, inclusive do terrorista que se arrepende sinceramente e busca reparar o dano feito, e, portanto, sem quaisquer exclusões. Todos estão salvos, pela espontânea crucificação de Jesus Cristo, mas o homem tem a triste liberdade de se excluir da salvação. Tal como Judas, por aqueles que crêem na Revelação contida nos Evangelhos.
Esta colocação, apesar de parecer impertinente, é necessária para evitar a acusação costumeira de que, quem pensa assim, é porque defende a exploração do homem pelo homem, quando não há maior exploração dessa natureza do que pelos regimes totalitários, que exploram a vontade humana, pela exclusão da liberdade de pensar e de fazer. Para esses, os católicos deveriam também Fazer o Grito dos Excluídos, como também de fazer o Grito dos Excluídos, da vida, pelo aborto.
Sempre imaginei, permita-me dizê-lo, que o ser humano é como uma mesa de quatro pés, no sentido comum da vida, sem levar em conta as distorções, queridas ou não ( por isso, entendo que são quatro pés e não quatro patas). O primeiro pé se refere à família, que é onde surge a pessoa que somos, desde o momento da concepção, na qual já recebemos a alma que Deus nos dá, com a vocação que lhe é inerente. É, na família, onde, com o nascimento, tomamos consciência, pouco a pouco, de nossa existência e dos que foram responsáveis diretos por ela e pelos valores que ela comporta, queiramos ou não aceitá-los.
O segundo pé, diretamente vinculado ao dom da liberdade, que é a razão de ser da dignidade e da responsabilidade de cada ser humano, e que vem logo a seguir ao dom da vida, que podem ou não, ser bem ou mau usados, com as naturais conseqüências do caminho que se segue, com eventual desequilíbrio da vida e de seu fim último. É a religião. No meu caso, sou católico, apostólico, romano e papista. Para mim, a atual atuação de certos círculos que se denominam católicos, advindos da Teologia da Libertação, que nada mais é do que a tentativa de levar o marxismo para dentro da doutrina de sempre da Igreja, com maior ou menor consciência disso, tende a configurar tais grupos, independente das funções que exercem na hierarquia, mais como um partido político ou um apê ;ndice de um determinado movimento.
É um direito de qualquer um, atuar politicamente, mas, em certos casos, deve, para fazê-lo, deixar atividades que lhe são incompatíveis, como a de ministro da doutrina cristã, quando, como agora, passa a ter um caráter partidarista, sob a capa do social, ainda que o problema social exista, decorrente do pecado original, que gera o egoísmo, além da inveja e ódio.
Como de hábito, em qualquer setor da vida brasileira, os audaciosos fazem o que querem e os outros, sob a alegação de evitar conflitos, acostumados ao jogo das influências no poder de qualquer natureza, optam pela omissão.
O terceiro pé, é a tomada de consciência de que não somos isolados dentro de uma família, mas vivemos junto com muitos outros seres humanos, ou seja, com a sociedade, e, por isso, somos, também, cidadãos. Nessa sociedade, devemos encontrar o ambiente destinado, ainda que não consumado, em que devemos encontrar os momentos e as circunstâncias para realizar os talentos recebidos e ser útil ao Bem Comum. É também elemento fundamental da liberdade humana.
O quarto pé é a profissão, ou seja, o trabalho humano, que é necessário para formar e sustentar uma família e ser útil a si, à família e à sociedade. Ser, afinal, útil `concretização do Plano de Deus a respeito a cada um de nós, sem exceção de ninguém, nem dos que tem a enorme tarefa de conduzir o povo de Deus para o seu fim último.
Permita-me dizer, senhor Congressista, sobre os comentários acima, que, desde cedo, com cerca de oito anos, com a guerra mundial e com a ditadura do Estado Novo, senti-me engajado, por dentro e por fora, na importância de cada ser humano, a assumir a responsabilidade de pré-cidadão, de quem vê, na sociedade, o ambiente natural da busca da Justiça. Talvez por isso vim a ser advogado. Por isso, este foi o quarto pé para mim, ou seja, a minha profissão, onde somos, qualquer que ela seja, úteis a nós, à família e à sociedade, conforme a encararmos com pleno sentido de responsabilidade, e sem a qual somos marginalizados, por nossa culpa, ou pela má estruturação da sociedade, da própria razão humana de viver, pois o homem foi feito para trabalhar como a ave para voar.
Como desejo, como cidadão que se preza, antes de tudo, a verdade, porque ela é o caminho e a vida, não posso deixar de registrar que, depois de 50 anos de profissão, o quarto pé da vida humana, por razões que serão expostas num capítulo próprio (sei que lhe estou sugerindo muito trabalho de leitura, mas um parlamentar, que tem a noção claro do momento que vive o país e o mundo, às vésperas de uma terceira guerra mundial, com a característica de terrorismo infiltrado em todas as nações), sofri e venho sofrendo de empresas estrangeiras, uma delas ligada a um laboratório nacional que vem sendo apontado como fraudador, inclusive do período de validade de seus produtos, revelando um precário quadro da advocacia e da Justiça, mesmo depois de CPIs, que não chegaram ao fundo da questão.
Mas não quero esconder nada que sirva para que os que participam desses movimentos estratégicos, a que me refiro no título do presente trabalho, à revelia do conhecimento do povo, reservados os fatos apenas a alguns dirigentes da oposição e do governo, pois ambos fazem parte dos referidos movimentos, de tal modo serão detalhados em capítulo próprio, tornando-se claro que não são poucos os advogados que estão sendo submetidos a esse tratamento desmoralizante de um grupo de empresas, sem maior vínculo com a vida e o futuro do país, senão na busca do lucro que pretendem, sem que a OAB defenda os advogados, mais preocupada em ser uma OAB de passeatas...e de ocupação de posições em clubes esportivos...
Desde bem cedo, desculpe-me a afirmativa, vivo essas quatro realidades, e as considero, todas, essenciais, ao equilíbrio da vida e da sociedade onde se vive, com ou sem globalização, que não é necessariamente econômica, mas que decorre do fato de sermos, no conjunto de todos os homens, a humanidade. De um modo ou de outro, sempre somos globalizados, porque não há nada que alguém faça que não se transmita, como uma pedra no lago, até o final das suas margens, delimitada pela humanidade.
Daí, entender que devo tecer as considerações abaixo, às quais se seguirão os capítulos concernentes a cada episódio, para que cada um avalie como queira e faça o que queira.
O COMEÇO
O passado tem a natureza de ensinamento; o presente, serve de base de lançamento do futuro e, este, ainda que desconhecido em cada momento da vida, se destina a construir a vida e a sociedade, a partir das circunstâncias que encontramos e dos talentos que possuímos. Somos atores e autores da nossa vida. Parte do “script” é de nossa autoria e parte de autoria dos demais. Depois dessas considerações, de tintura filosófica de uso comum, a descrição sintética dos fatos, no que diz respeito ao tema, com algumas das razões que me levou a transmitir o que chegou ao meu conhecimento, ou pela via da pesquisa ou porque foi enviado por aqueles que tomaram conhecimento da minhas pesquisas.
A DESCRIÇÃO
Em agosto de 93 estava, posto em sossego, em Miami, aguardando a recuperação de um pequeno acidente sofrido por minha esposa. Para aproveitar o tempo, visitei a firma de um amigo cearense, já falecido, que tinha lá, um estabelecimento complementar de sua fábrica de roupas. Não estava. Seu gerente, um cubano, cuja família apoiara Castro, a ponto do avô, médico, ter arriscado a sua vida e a de toda a família, por ter organizado um hospital clandestino, em sua fazenda, para os “revolucionários” de Fidel.
Tinha tido, depois da vitória de Castro, de sair de Cuba, com toda a família, por ordem de Fidel, porque sua mãe, uma líder política comunitária, tinha procurado a Comissão Militar encarregada do julgamento de militares acusados de apoiarem Batista, e protestado contra a condenação dos mesmos ao “paredón”, pois conhecia, a grande maioria, como militares profissionais, sem envolvimento político.
Como tudo que Castro faz, até hoje, o silêncio dos políticos, da América Latina e do Brasil, com exceção recente do presidente de El Salvador, que enfrentou Fidel na Cúpula das Américas, de igual para igual, e continua a estar à disposição para enfrentá-lo, para o que der e vier, sempre foi e é revelador do grave pecado da omissão, dos governantes mundiais e latinos. Essa atitude foi e é geral, apesar dos pruridos que revelam em relação a qualquer violação aos direitos humanos, inclusive a ponto de até receberem medalhas...
Castro, num repente de gratidão, contrário ao seu estilo, apenas expul sou toda a família do gerente do meu cliente, ao invés de mandá-la para a cadeia ou para o próprio “paredón”, mas não sem antes exigir que todos, sem exceção, mesmo menores de idade, pertencentes à família, assinassem a doação, de todos os seus bens, ao Estado cubano (ainda não haviam começado os confiscos generalizados).
Casado, depois, com uma brasileira e falando português, pois esteve no Brasil por algum tempo, esse gerente me afirmou, sem ter qualquer prova, mas apenas por ouvir dizer, que Lula tinha estado em Havana, na semana anterior, onde fizera um Pacto de Ação Continental com Fidel Castro. Isto teria ocorrido na última semana de julho de 93. Na época, tudo indicava que Lula ganharia as eleições de 94 (e eu não tinha conhecimento, ainda, do compromisso de FHC de apoiá-lo para presidente, assumido em Princeton, em inícios de 93).
Para mim, embora não fosse do meu agrado, aceitava a regra do jogo, que representaria a eleição de Lula, ainda que tivéssemos, a meu ver, de passar por muitos problemas, tendo em vista o pensamento político dos que formavam o PT. A informação do gerente, porém, mexeu com o pé da mesa relativa à cidadania, e com a veia de cidadão.
Uma coisa, para mim, era Lula presidente, pelo jogo político interno; outra, era ser eleito e atuar, na presidência, em Pacto político com Fidel, que, quando advogado, ainda recentemente formado, havia simpatizado por achar que, de fato, desejava, com sua “revolução”, a liberdade dos cubanos, mas, logo depois, também me insurgi contra o “paredón”, especialmente quando, a ele, também foi condenado, apesar de ter apoiado Castro, o presidente da FEU, correspondente à entidade brasileira UNE, onde eu havia militado, e da qual havíamos afastado o controle então exercido pelos comunistas, e seus aliados.
Na época, fiz uma publicação, em “O Estado de S. Paulo”, pelo fato de Frei Josaphat não ter aceito publicar a minha carta, na qual, como acionista do “Brasil Urgente”, da ainda incipiente esquerda católica, ligada ao PDC, mas que havia conseguido induzir as equipes de casais de Nossa Senhora, a subscrever o capital desse jornal interno, eu tinha direito, assegurado pelos estatutos. Nele, eu exigia um pronunciamento, daquele órgão, contra o fuzilamento do presidente da FEU, tendo, como resposta, apenas em carta, que também não foi publicada na revista, como também era o compromisso que havia sido assumido, pelos seus empreendedores, com os acionistas.
A carta, que estava assinada pelo diretor Ruy do Espírito Santo, então do PDC, sustentava que, “o fuzilamento, por motivos políticos, algumas vezes, era necessário.” Publiquei esta resposta no jornal “O Estado”, pois o Frei Josaphat, alter-ego de Frei Beto, que escreveu o Paraíso Perdido, Nos Bastidores do Socialismo”, (e que acabou sendo utilizado na armadilha contra Marighella), onde defende o regime de Fidel, e todos os outros que se instalaram na AL, sob a alegação de “Teologia da Libertação”, que de estudo de Deus (Teologia significa “estudo de Deus”) nada tem, mas, na realidade, como constata quem o ler, é pura defesa de uma ditadura coletivista, distributivista para “inglês ver”, pois os que dão suporte ao regime, enquanto o são, até pelo medo da conseqüências, tem todas as regalias.
Como disse, o Frei Josaphat, não havia concordado na publicação, no jornaleco desse grupo, do qual fui acionista, chamado “Brasil Urgente”, apesar de ter tentado, antes, que eu ingressasse na Ação Popular, ainda em esboço, a partir da JEC e da JUC, integradas , na época, ao PDC, e, depois, à Ação Popular.
Resolvi pesquisar se a informação dada pelo gerente do meu cliente cearense, sobre a estada de Lula em Havana, tinha fundamento. Procurei, por indicação desse gerente, o Bispo Auxiliar de Miami, Monsenhor Agustin Roman, cubano, narrando e ele a razão pela qual desejava ter certeza do fato que me havia sido narrado pela pessoa atrás mencionada, sustentando que, se verdadeira, a eleição de Lula representaria um imenso reforço para Fidel, que adiaria bastante a época de concretização do desejo dos exilados de retornar a seu país, já livre da ditadura.
Por apresentação dele, fui, no mesmo dia falar com Jorge Mas Canosa, que dependia, todavia, para a pesquisa, que eu pretendia, de “Pepe” Hernández, vice-presidente, que estava em Washington. O certo é que a Fundação Nacional Cubano-Americana, surpreendentemente, não sabia nada sobre a fundação do Foro de São Paulo.
Na saída do encontro com o Bispo, ele me indicou o Prof. Juan Clark, como o maior estudioso dessas questões e que, talvez, pudesse ser útil. Um primo de minha esposa, que estava conosco, Orlando Lovecchio, que havia perdido a perna num ataque terrorista ao Consulado Americano em São Paulo, no início da luta armada no Brasil, encontrou, em uma livraria, o livro de Juan Clark, sob o título de “Cuba, Mito y Realidad”.
Procurei o autor, que me deu indicação do Centro Norte–Sul da Universidade de Miami, onde tive toda a colaboração de Guillermina Carrandi, também cubana, e que, tinha, no Departamento dela, exatamente o que eu procurava: as coleções do jornal “Granma”, edição interna de Cuba, onde, quase certamente, haveria alguma notícia sobre essa visita.
De fato, tinha estado duas semanas a procura do local onde poderia encontrar a coleção desse jornal, órgão do Comité Central do Partido Comunista de Cuba, ( o primeiro Partido Comunista foi arquivado e substituído pelo novo partido comunista, organizado por Fidel, por ordem da URSS, depois que Castro declarou o regime de Cuba comunista, pois o partido pré-existente ao formado por ele, sempre tinha apoiado Batista e sempre tinha sido contra Castro. Esta posição continua sendo a do filho do Secretário Geral do PC da época, já falecido, Blas Rocca. Tudo indica que o filho está preso ou esteve até há pouco. Enfim, esta também era a atitude de Luiz Carlos Prestes, que não morria de amores por Fidel, cujo comunismo achava que era fruto de mero oportunismo, ou seja, da necessidade de se contrapor aos Estados Unidos, para o que nada melhor do que, em plena “guerra fria”, com a ameaça atômica, se “unir” a URSS, ou seja, em português claro, se submeter a ela, na época de Kruschov.
O meu faro de advogado me sugeria que, se Lula tivesse estado em Havana na época referida, teria havido algum tipo de registro no referido jornal, porque interessava ao regime mostrar, ao povo cubano, as dimensões internacionais do prestígio de Fidel. O departamento Norte-Sul da Universidade possuía, de fato, a coleção do jornal, e ajudado pela minha esposa e pelo seu primo, acima citado, iniciei a pesquisa, começando pelos jornais da última semana de Julho de 93, que tinha sido a indicada como a da visita de Lula a Fidel.
Para surpresa minha, não era uma reunião de Lula e Fidel. Mas de uma organização da qual não se tinha qualquer idéia, denominada “Foro de São Paulo”, que não era secreta mas não era para conhecimento de gregos e troianos. Só era publicado o noticiário a ele referente, internamente, em Cuba. Havia uma edição internacional, do “Granma”, em várias línguas, que, entretanto, não publicavam os assuntos relativos à estratégia da esquerda latino-americana, patrocinada pelo Foro, depois de fundado, sob as “benções” e inspiração de Fidel Castro. Mais tarde, o Foro passou a ter algum tipo de noticiário restrito em alguns jornais de alguns países, e, até, uma revista, quase de circulação interna, chamada “América Libre”, dirigida por Frei Beto, editada na Argentina.
Estavam presentes, nessa reunião, 112 organizações de esquerda de toda a AL, além de observadores convidados de organizações de esquerda de outros continentes. Era o seu IV Encontro Internacional. A primeira, tinha sido quando da fundação em São Paulo, no Hotel Danúbio, nos inícios de 90, logo após a vitória de Collor sobre Lula, como estava previsto que deveria ser feito, se isso acontecesse, desde uma reunião em 8 de janeiro de 89, em Havana, também publicada no “Paraíso Perdido”, com a presença de Fidel, de Lula, Frei Beto, (atual assessor de Lula, residindo no Palácio do Planalto), de José Genoino, (atual presidente do PT), e do jornalista Kroscho, (atual assessor de imprensa do presidente Lula.)
A finalidade, nessa ocasião, era fixar as estratégias para as eleições nos países do continente, que iriam se realizar desde dos fins de 93, no México, até as eleições de inícios de 95, na Argentina, num total de 14. Estavam presentes, nesse IV Congresso, as organizações guerrilheiras e toda a cúpula do PC cubano, inclusive, logicamente, Castro, bem como toda a cúpula internacional do PT, com Lula à frente e, naturalmente, Frei Beto, que é o único que fala, praticamente de igual para igual, com Castro.
Eu não sabia, ainda, do Pacto estabelecido na Universidade de Princeton, em inícios do mesmo ano, no qual, um dos compromissos assumido pelo Foro de São Paulo, com o Diálogo Interamericano, fundado em 1982, sendo vice-presidente e principal representante da entidade na América Latina, Fernando Henrique Cardoso, então senador. (atualmente FHC é co-presidente do Diálogo, juntamente com Peter Hankim). O Pacto de Princeton era abrangente, mas, para a esquerda orientada por Fidel, era uma mera forma de obter apoios adicionais, sem afetar a estratégia básica do Foro, embora este se utilizasse do Pacto com o Diálogo, em tudo quanto lhe era favorável, e cumprisse os diversos pontos, enquanto eram do seu interesse ou da estratégia estabelecida pelo Foro de São Paulo, que poderiam influenciar o Diálogo, dando-lhe a impressão de uma efetiva disposição de cumprimento da estratégia comum.
Não vale a pena maior referência, agora, ao documento do Departamento de Estado, assinado por Kissinger, em fins de 74, inicialmente sigiloso, mas tornado público por Reagan e constando da Biblioteca do Congresso Americano, porquanto, em grande parte, está superado. O ponto de partida era considerar a questão da imigração latina como um caso de segurança nacional, pelo potencial de alteração da cultura americana.
A idéia era reduzir a referida imigração ao mínimo. Na verdade, hoje, a imigração latina é praticamente incontrolável, e até fundamental para o futuro dos Estados Unidos. A política do Diálogo, fundado em 82, com Fernando Henrique na vice-presidência, como principal participe da AL, que visava cumprir a estratégia do documento de 74, do Departamento do Estado, acabou por atingir objetivo inteiramente contrário, como será possível verificar mais adiante, inclusive no Brasil e, na Colômbia, nem se fala, acrescentando-se a Venezuela e, de certo modo, o Equador.
Mas, muitas vezes, essas evidências não são fáceis de serem alcançadas pela mente daqueles que as conceberam, aferrados que ficam às suas verdades dogmáticas, caiam tantos Muros quantos caírem. Até que, nisso, têm uma certa razão, porque os muros não carregam, nem o de Berlim, na sua queda, as utopias, ainda que derrube governos, ou nem acabam com as idiossincrasias daqueles que não aceitam os que não são frutos da mesma árvore ou do mesmo solo, pois os considerarem “inimigos de classe”.
Mas há que voltar ao Foro de São Paulo, que nasceu em julho de 90, mas foi concebido, tendo Fidel por pai e Lula por mãe, em janeiro de 89, em reunião de cúpula do PC de Cuba e PT do Brasil. José Genuíno estava presente, conforme descrição do livro de Frei Beto (irmão terceiro dominicano, que não é sacerdote), com o título de “O Paraíso Perdido” - Nos Bastidores do Socialismo”.
Nela, ficou estabelecido que, se Lula não ganhasse as eleições em novembro de 89, deveria ser formada uma organização para coordenar toda a esquerda continental e que a liderança do processo caberia a Lula.
Collor não tinha surgido. O receio, na ocasião, era de uma reviravolta a favor de Brízola, não confiável para o projeto que estava delineado para que “fosse conquistado, na AL, uma espécie de contrapartida, do que já se antevia, nessa reunião, ou seja, que a URSS iria perder o leste europeu”. Para Fidel, o Muro já estava balançando, com o que estava ocorrendo na Polônia, depois da eleição do Papa João Paulo II.
Com a vitória de Collor, a esquerda continental, mesmo a de características guerrilheiras, foram, em número de 48 entidades , para a reunião de fundação do Foro, em julho de 90, no Hotel Danúbio, com algumas reuniões secretas, anteriores, em Itaici.
Este dado foi obtido quase por acaso, pois ao se localizar a reunião realizada em 93, em Havana, do IV Encontro do Foro, lia-se que Balaguer, do Comité Central do PC Cubano, iniciava o discurso de saudação com elogio a Lula, dizendo que, quando, há três anos, tinha sido fundado o Foro, para o qual o Frei Beto deu imensa contribuição (ficou sendo diretor continental de revista do Foro “América Libre”, impressa na Argentina), não se podia imaginar que, em tão pouco tempo, teria obtido tal desenvolvimento, como provava aquela reunião de Havana, com 112 organizações (afora os convidados de outros continentes) e já com candidatos a presidente na maioria dos países onde haveriam eleições nos seguintes 20 meses.
Com a coleção de Granma à disposição, a pesquisa recuou em três anos, que tinham sido mencionados por Balaguer, e lá estava toda a hist&oa cute;ria da formação do Foro, inclusive de certas visitas estratégicas feitas na ocasião, articuladas por Frei Beto, levando à cúpula do partido comunista cubano, vinda à fundação do Foro, em São Paulo, a uma reunião ao Cardeal Arns, da qual veio a ser enviada carta de simpatia ao ditador Fidel Castro. E, assim, seguiu a pesquisa por diante. Numa reunião se falava da próxima e, de tal sorte, foi possível ir pesquisando o que foi feito pelo Foro nos anos que se seguiram, com reuniões sempre onde, de algum modo, entidades do Foro tinham presença forte, como México, Nicarágua, Montevidéu, Porto Alegre, El Salvador, etc. A próxima, novamente, será em Havana. Há informações substanciais sobre reuniões em Manágua, na ocasião da derrubada dos aviões dos “Hermanos en Resgate” perto de Cuba, de vez que considerei tarefa minha a pesquisa referente a 94, embora tenha também tomado conhecimento das reuniões de 95, no Uruguai, e 97, em Porto Alegre, nas quais o MST foi apontado como a ponta de lança da revolução socialista na AL, devendo ter a cooperação dos zapatistas e das Farc. (havia a possibilidade de colaboração do Comando Vermelho, fundado sob a inspiração de documento da guerrilha urbana no Vietnã, mas para uso de criminosos comuns)
Mas, sem dúvida, o VI Encontro, em 93, foi o mais importante, feito depois do Pacto com o Diálogo Interamericano, realizado na Universidade de Princeton, com o beneplácito de Warren Christhofer, secretário de Estado de Clinton, no início do mesmo ano, em que algumas estratégias para toda a AL tinha sido ajustadas entre as partes.
O ponto de partida, para o Diálogo, era a certeza de que, com o desmanche da URSS, a esquerda da AL teria necessidade um novo ponto de apoio, principalmente de natureza política, enquanto, para o Diálogo, fazia falta, uma força com capacidade mobilizadora, que a chamada social democracia agnóstica não tinha para dar suporte ao pontos essenciais de seu projeto continental, inclusive porque alguns dependiam diretamente da concordância entre a teoria e a capacidade de mobilização do povo, que FH não tinha.
Para o Diálogo, a eliminação das causas da imigração menos desejada, de latinos, impunha conseguir que as forças guerrilheiras, ligada ao Foro, se transformassem em partidos políticos e passassem a disputar o poder pelo voto, imaginando que assim eles, ganhando algumas eleições, apoiados pelo Diálogo para tomarem posse e se manterem no poder, se convenceriam da vantagem do jogo democrático, e se tornariam civilizados, mesmo depois de conquistar o poder.
Isto, apesar de diversos exemplos históricos, inclusive o de Hitler, em que as eleições serviram para chegar ao poder, sendo, posteriormente, transformados em sistemas totalitários ou similares, com a ingenuidade dos ocidentais, sempre dispostos a imaginar que os ideais democráticos, com sua base de sustentação no voto popular, acabem por conquistar os que só estão dispostos a governar pela força. O Diálogo, todavia, acreditava na sua força de manter o voto como um fator de democracia e, portanto, sem provocar o êxodo das populações atingidas por regimes de força, da esquerda ou da direita.
A tolerância inglesa com Hitler eleito, que vem se repetindo com a tolerância, dos Estados Unidos e outros países, com Chávez, pelo fato de ter sido eleito na Venezuela, mas na qual se prepara claramente um sistema ditatorial, baseado na “revolução” bolivariana, numa nova e bastante repetida demonstração da ingenuidade anglo-americana, que, depois, é obrigada a pagar o preço de uma guerra absurda, como já admitiu Kissinger, em relação a um segundo Vietnã na Colômbia, com o fracasso, que ele entende inevitável, do Plano Colômbia. Sem esquecer que foi ele quem assinou o documento de 74...
Na realidade, o voto é apenas um meio de exercer a democracia, mas não é ele que define a sua essência, mas, fundamentalmente, o respeito, pelos detentores do poder, da dignidade e da liberdade do homem.
E, agora, com o covarde ataque que os Estados Unidos vêm de sofrer, em Nova York e Washington, que só não atingiu a Casa Branca porque, por força de ligações de celulares, pelos passageiros, já se sabia que o avião em que estavam seria utilizado pelos terroristas, que já tinham dominado a tripulação desse quarto avião, para um alvo importante, e que todos seriam mortos, de tal modo que os tripulantes e passageiros entraram em luta contra os que dominaram a direção do avião e este acabou se estatelando no chão em Pittsburg, sem cumprir a missão dos loucos que planejaram a operação. Todos morreram, mas evitaram morrer no alvo dos terroristas...
Volto ao assunto: voto é forma; democracia é conteúdo. E conteúdo representativo, que ainda não foi alcançado, com a plenitude e suficiência necessárias, na AL. Mas, enfim, foi o que propôs o Diálogo: que a esquerda, mesmo radical e guerrilheira, revolucionária e marxista, abandonasse a forma atual de tomar o poder, pela revolução e optasse pela participação em eleições, tendo como contrapartida o apoio o Diálogo para nele permanecer, pensando que, assim, evitariam as imigrações, pois não haveria repressão interna de caráter totalitária. Será que vão apreender com Chavez? E também, agora, com o Haiti?
Com isso, também em contrapartida, haveria reação do Diálogo e de suas imensas influências nos Estados Unidos, a qualquer tipo de repressão militar ou policial à esquerda, que também resultava em imigração indesejada, forçada. A tudo, se acrescia um esforço para que os governos fizessem acordos de paz com os que atuavam revolucionariamente, colaborando por todas as formas, para que a paz fosse obtida, de modo a permitir a formação dos partidos políticos de esquerda revolucionária, como aconteceu com o M-19 e outros movimentos, até quando não se sabe. Esta aí a causa do acordo de paz com a Farc, entregando-lhe um território à sua administração, sem conseguir o objetivo.
De qualquer forma, também o auto-golpe de Fujimori, eleito, já gerou certas desconfianças, mostrando que a estabilidade pode ser atingida, tanto de fora para dentro como ao contrário, e de forma a se tornar difícil uma ação coletiva eficaz. Além disso, não se pode esquecer que o auto-golpe foi, em suas conseqüências, muito menores do que a luta armada levada a cabo pelos Senderos, com milhares de mortos e que agora volta a ameaçar o Peru.
A outra questão para o Pacto de Princeton, onde também FHC foi professor, durante seu exílio voluntário, durante o regime de 64/68, era o controle populacional, mas através, agora de parte também do Diálogo, por formas radicais, mas em uso em alguns Estados americanos, ou seja, pela legal ização, na América Latina, do aborto, da esterilização e da união de homossexuais. Nos EE.UU. existem 600 mil lares constituídos por homossexuais, mesmo que ainda não oficializados por leis civis ou atos oficiais, que, todavia, já vem acontecendo em certas regiões.
As forças de esquerda, no compromisso com o Diálogo, dariam a sua colaboração para atingir a legislação necessária a oficializar essas questões, que, evidentemente, teriam, previsivelmente, a oposição da Igreja Católica, que precisaria ser enfraquecida com a noção de um misticismo individualista, que seria o determinante nas relações de cada um com Deus, sem necessidade de Igreja, sacramentos ou sacerdotes, ou, pelo menos, minimizando a presença desses elementos na população. Frei Beto e Frei Boff escreveram um livro defendendo esta tese.
De outra parte, as questões levantadas, impunham também o enfraquecimento das elites, ou seja, dos partidos que sempre deram sustentação às elites dos países, responsáveis pela pobreza, que, no caso do Brasil, por conclusão não declarada, eram o PFL, PPB, e seus líderes, como ACM, Maluf, etc., além de empresários e suas bases de sustentação na estrutura de governo.
Não podia se deixar de ter presente que, nos quinhentos anos de civilização no continente, os pretendidos suportes dessas elites, nessa visão de Princeton, eram as Forças Armadas e, especialmente a Igreja Católica, com a exceção da Teologia de Libertação, que só se diz católica por necessidade de permanecer atuando dentro dela. Há exceções de praxe, daqueles que se preocupam com a questão social, sem se recordar da doutrina social da Igreja e da sua atuação através dos séculos, na defesa da vida, da liberdade e da dignidade do homem, muito acima do que hoje se entende por direitos humanos. As Santas Casas e as escolas espalhadas por todo o país, fizeram mais pelo país do que as estruturas governamentais.
Isto implicava noutro ponto do Pacto, que era o enfraquecimento das Forças Armadas, pela sua redução, de um lado, e por nova destinação, de outro, e pela redução da capacidade de decisão das referidas Forças, por elementos a elas pertencentes, além de reduzir seus quadros e usá-las nas Forças de Paz da ONU. As Forças Armadas tem sua origem na necessidade, em certos momentos, de dar suporte para a diplomacia ou para ataques, como o que acaba de sofrer os Estados Unidos. Há também situações internas, que dizem respeito a manutenção da ordem e da lei, que ultrapassam as condições das policias, que obrigam a presença das Forças Armadas.
Quem é o ingênuo que sustentará que qualquer outro país da AL não poderá passar por situações semelhantes, como já sofreu na luta armada desencadeada por Castro no Brasil e outros países da América Latina? Inclusive na Bolívia, onde morreu o argentino-cubano Che Guevara.
Como afirmar que, dentro dessa missão, não tenham de influenciar a política interna em razão de uma política de defesa, que exige debates internos, entre civis e militares? Como afirmar que a tradição da AL não exija, especialmente como mostra a história do Brasil, a necessidade de se fazer ouvir em certas ocasiões, especialmente em face da qualidade sofrível da classe política brasileira.? Ninguém quer regimes militares, mas ninguém quer regimes civis que deixem o brasileiro sem esperanças de construir um futuro adequado para seus filhos. A classe civil que ponha a mão na consciência antes de criticar os pronunciamentos militares em prol de um país que é de todos e em que todos são cidadãos. A AL não é os EE.UU. e, por isso, os EE.UU não deve querer impor a sua visão sobre o assunto, na AL, sob pena de desestabilizá-la.
De parte do Foro, na reunião de Princeton, foi colocada a questão do Haiti, onde Aristide, eleito, tinha sido retirado do poder pelas Forças Aramadas, devendo retornar a ele, o que redundou num fracasso, que agora se tenta corrigir, inclusive com envio de contingentes das FFAA brasileiras, dentro da nova destinação...
Também, foi assumido, na reunião de Princeton, o compromisso de contribuir para a abertura de Cuba, em aspetos comerciais, inclusive turismo, em maior escala, desde que essa “abertura” ficasse dentro dos limites que assegurassem que o regime fosse mantido, sem riscos, apesar de não ter sido eleito, há já 42 anos, como agora afirmou Fox, presidente do México, além do presidente de El Salvador, que só admite restabelecer relações diplomáticas com Cuba, após a adoção do regime democrático. O certo é que, depois disso, a ONU aprovou a intervenção no Haiti. Não fez o mesmo em relação a Cuba, apesar de Fidel não ter sido eleito.
O Diálogo, mais recentemente, formou uma Comissão Parlamentar, do qual José Genoíno e dois outros parlamentares brasileiros, inclusive um do PSDB, fazem parte, certamente com vistas à alteração da legalização do aborto, esterilização e união civil de homossexuais. O programa do PT não incluiu estes pontos, mas permitiu aos parlamentares agirem como entendessem, no Encontro Nacional que se seguiu ao Pacto com o Diálogo.
Dentro desse contexto, realizou-se a reunião de Havana, de Julho de 93. As decisões foram, fundamentalmente três, afora o habitual dos manifestos da esquerda continental. Primeiro, decisão incondicional de todas as forças ali reunidas, no sentido de dar todo o apoio à Cuba, durante o período especial, decorrente da cessação do auxílio soviético e do leste europeu, inclusive com a compra de remédios e estímulo ao turismo. Itamar, visitado por Lula, adquiriu 300 milhões em remédios de Cuba, para entrega parcelada. Convênios de assistência médica familiar com Municípios, etc. Agora se pretende que os médicos formados em Cuba não tenham que passar por cursos de adaptação, a que são obrigados os formados em outros países.
Segundo, concentração de esforços de todas as forças do Foro para eleger Lula, tendo em vista a necessidade de uma base territorial e de um governo de expressão, para dar suporte ao que viria a ser uma espécie de União ou Federação (nome dado por Chávez), das Repúblicas Socialistas da AL, (URSAL no lugar da URSS...) facilitada pela quase unidade lingüística. No âmbito da imprensa atuaria, como atuou, escrevendo a favor de Lula, inclusive, em Clarin, de Buenos Aires, Jorge Castañeda, atual ministro de Relações Exteriores de FOX, mas assessor, na época, de Cárdenas, um dos líderes do Foro e ligado aos zapatistas.
O terceiro objetivo definido na reunião do Foro, em Havana,, seria impedir o desenvolvimento da Nafta , que iria entrar em vigor no dia primeiro de janeiro de 94, no México, com provável expansão para outros países, colocando-se a luta dentro do tema do combate ao neo-liberalismo, por todas as formas possíveis. Nesse mesmo dia, houve o levante zapatista...
Não houve, na reunião de Havana, qualquer referência, pelo menos pública, ao acordo com o Diálogo Interamericano, nem aos compromissos assumidos, inclusive sobre a transformação das guerrilhas em partidos ou a cessação de levantes ou luta armada, tanto que, logo a seguir, houve o levante de Chiapas (1/1/94), sem que, naquela época, os zapatistas, de caso pensado, não participassem do Foro, o que só veio a ocorrer mais tarde.
Se algumas forças do Foro se tornaram partidos, outras, como a FARC e o ELN fazem “cenas” de participação em negociações de paz, que nunca chegarão ao um final, a não ser com a tomada do poder por eles. O MST também faz parte do Foro e da estratégia deste para toda a AL. Tudo indica que os Senderos estão de volta, bem como os Montoneros, enquanto a Frente Ampla e o Movimento Sandinista se preparam para ganhar as eleições. em seus países, e a Frepaso rompe com o governo de la Rua, que acabou na rua.... Todos integram o Foro.
Por final, Lula aceitou, em 93, convite de Fernando Henrique para entrar no Diálogo, de que faz parte, com restrições, enquanto o seu introdutor não consumou a expectativa de apoiar Lula em 94, que estava no bojo deste Pacto continental, com repercussões na vida dos países do continente, embora não implicasse em união forçada dos seus participantes. Na verdade. Com sua nomeação para o Ministério da Fazenda e o Plano Real, FHC anteviu a possibilidade de se candidatar, deixando Lula a ver navios, mas só decidiu faze-lo, em fevereiro de 94, quando teve certeza do apoio de ACM e do PFL.
O Pacto continua de pé, embora fragilizado, inclusive porque, com a eleição de Chávez, e a atuação da Farc, o Diálogo se sente falando sozinho, embora, em suas análises, sustenta que agora Lula é confiável e até democrata, como se não continuasse o seu compromisso fundamental com Fidel Castro, o maior ditador totalitário já visto na AL. Ao mesmo tempo, os principais representantes de ambas, FHC e LULA, para a AL, não estão rezando pela mesma cartilha, pelo menos por enquanto. Desde que mantenham certos princípios do Diálogo, podem brigar, um com o outro, à vontade, sem causar maiores danos aos objetivos estratégicos do Diálogo.
De outro lado, o instrumento fundamental do chamado neo-liberalismo, ou seja, a globalização, oferece dificuldades que sequer exige muito empenho da esquerda para pô-lo em cheque. Tudo indica que, neste início do Milênio, a América Latina vai ter um papel de grande relevância para o mundo futuro e quem mais parece saber disso é a China.
Já agora, com os novos acontecimentos nos Estados Unidos, que mudaram o mundo, que vai obrigar à tomada de posição de parte de gregos e de troianos, como na 2ª Guerra Mundial, creio que cumpri meu dever, em época oportuna, de transmitir a análise que fiz em pesquisas documentadas e, evidentemente, algumas conclusões de minha autoria. Em 94, quando escrevi a “Estratégia da Utopia”, antes da pesquisa, e, depois um relato de parte dos fatos acima, enviei, por dever de consciência, para todos os Bispos Brasileiros, para os principais jornais, dentro os quais ‘O ESTADO”, “A FOLHA, ‘O GLOBO”, este entregue ao advogado, na época, de Roberto Marinho, para a ABRIL, e “ISTO É”, tendo alguns jornais enviado jornalistas em casa, para aprofundar a matéria.
Os únicos que publicaram algo, foram “A TRIBUNA”, de Santos, que provocou processo eleitoral do PT contra mim, inadmitido pelo Juiz, e o “CORREIO BRASILIENSE”, que, inclusive pesquisou na Argentina e no Uruguai e entrevistou Lula, que não rejeitou a sua ação de coordenação da esquerda latino-americana, publicando duas páginas inteira sobre o assunto, na época e que, certamente, continua à disposição de quem tenha interesse pela matéria,
Cumpro a minha tarefa de cidadão, ficando o resto por conta de V.Sas., sem que eu faça distinção de qualquer natureza entre os destinatários.
E, para ficar claro a quem ler este documento, ele foi atualizado, da data original em que foi escrito, para o ano de 2004, em alguns de seus tópicos.


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